vocabulose

Sinuhe LP

O primeiro sintoma foi no jantar. Mamãe, por obséquio, quais acepipes estão no cardápio? Os pais se entreolharam. Esse menino está vendo muita televisão. Na escola, assustava os amiguinhos. Profa., pularemos os prolegômenos da aula? Ninguém entende o que ele fala, parece outra língua, dizia a professora, que ficava de cabelos brancos. A mãe, preocupada, passou a observar para descobrir de onde vinham aquelas palavras. Mamãe, estou incólume, indene, invulnerado. A mãe achou uma afronta. Já para o seu quarto. Ok, vou me refugiar na minha guarida. Sem melhoras, levaram ao médico. Abra a boca e diga bobagem. Chorumelas, respondeu o menino. Isso é grave, doutor? Não há nada a fazer, dona, este menino é mesmo um caso de vocabulose. E tem cura? Olhe para mim: um matusalênico.

Ilustração de Ana Zequin