astros em casa

Sinuhe LP

Eu não pedi nada. Mas uma encomenda de Tiradentes chegou. Dentro, uma casa de barro em miniatura, com paredes roxas e contorno laranja nas portas e janelas: sempre abertas. Na frente, um detalhe em flor. Por dentro, vazia e sem chão. Sem cheiro. Escrevia uma canção e, quando me faltavam palavras, olhava discreto para a casa no alto, ao lado dos livros na estante. E me inspirava. Isso se repetia. Ao dormir, ouvia baixinho um som conta-gotas que marcava o tempo. Irritava profundamente. Você já deve imaginar que vinha da casa, mas eu não fazia ideia. Reparei que ela soava e brilhava. Quanto mais pingante, mais brilhante. Visitei a casa: despencavam astros do seu telhado. E eu dormia com o som das pequenas estrelas. Acumulavam muitas. Debaixo da casa, o chão constelado.

Ilustração de Ana Zequin