sandra

Sinuhe LP

Uma intriga de vizinhos nomeou o bairro Barabaixo. Em um corredor, entre o mercadinho e o boteco, Sandra vivia com plantas cativas. Dracenas, damas-da-noite, rendas-portuguesas, samambaias. Antes de uma casa, um grande jardim. Sandra não morava, escondia-se entre os ramos. Os poucos moradores daquela porção de terra repudiavam. Principalmente no boteco: um cortiço de folhas! Semente do diabo, só junta mosquito! Falavam que Sandra tinha barulho de carroça na cabeça e gozavam das garrafadas que preparava. A mata do corredor já alcançava os telhados quando notaram o sumiço de Sandra. Organizaram-se e, de mansinho, invadiram sua casa com facões e herbicidas. No boteco, alguém viu uma carroça e lembrou Sandra, todos riram. Na primavera, o bar veio abaixo, adubando a terra.

Ilustração de Ana Zequin