Bauru...

Sinuhe LP

Minha vó sempre lutou com as letras e nunca entendi muito bem. Quando pousávamos em Bauru… — a cidade dela —, na hora de dormir, ela dizia que, antes do sono, vinha a luta. Mas por que a luta? Vovó era estudiosa das letras. Ela respondia que, antes de utilizá-las, era preciso essencialmente domá-las. Colocava um pijama de seda, apagava as luzes, marcava o tempo no relógio da cabeceira. O quarto era o ringue. Após árduas batalhas e noites de sono, a vó acordava com uma brincadeira de letra na cabeça. Uma palavra nova, uma interpretação que ela adotava para a vida. Uma vez vi que ela anotou a lápis “Bauru…”. Quis saber das reticências. E vovó revelou que em uma luta linguageira no quarto, descobriu que as reticências eram os trilhos de ferro dos trens que partiam de Bauru…

Ilustração de Ana Zequin