formigas no computador

Sinuhe LP

Café em tudo. Meu pai tinha derramado no computador, as letras boiando, a tela com pingos marrons. Na cozinha, bateu um super-remelexo: leite, rosquinhas e achocolatado. Pronto para beber, voltou ao café e já não estava sozinho. Muito feliz, gargalhava balançando o mouse e me chamou. Apontava e ria: enfileiradas e organizadas, formigas nanicas marchavam sobre a tela do computador. Meu pai adorando. Elas estão desbravando léguas, disse. Reparei que ele dirigia a cena de um espetáculo, conforme as formigas andavam, ele trocava o cenário na tela, ora escalavam a pirâmide de Quéops, ora uma montanha em Bariloche. O mundo a um clique. Meu pai se aproximou da tela: está ouvindo? Estão felizes, elas estão cantando! E eu também ouvi: pezinhos de coquinhos, uhm nhé-nhé nhé-nhé.

Ilustração de Ana Zequin