o sonho do engenheiro

Sinuhe LP

Morreu gritando: o efeito dos raios gama nas margaridas do campo. Médicos e anatomistas frequentavam a sua casa. Queriam estudá-lo, entender o sonho matéria. Mas o que sonhava? Dizia que se um dia contasse, morreria em seguida. Assim a cabeça se deformava, subiam bolotas, mini morros do crânio, o peso do sonho. A cabeça pendia. Sonhar era ocupar mais um espaço da cabeça, apertar o cérebro. Dormia com os dedos em figas para não sonhar. O sonho do engenheiro eram grãozinhos miligrâmicos. O dito sono pesado? Cabeça, alguém escreveu em letra cursiva em um bloco com manchas de café ao vê-lo passar no corredor. O chefe dizia que o engenheiro poderia morrer a qualquer momento: morreria de uma hora para outra, sem ninguém esperar, desesperando-se ao finar: a esperança definha.

Ilustração de Ana Zequin