mibalas, mibalas

Sinuhe LP

Mibalas, mibalas. Eram moda na rua as balas da venda do seu Juca. Ele tinha um baleiro de cinco bocas, coisa fina que girava quando a gente cantava. E foi mania entre os moleques do bairro brincar de dedos leves no baleiro. O povo inventa línguas e balas, o truque era manjado. Mas quem está chupando bala não fala. Grande torcedor do Noroeste, seu Juca largava o balcão para ouvir a partida no quarto. Coisa de superstição. De tocaia, entrávamos em ação, quem tascava a mão dentro do baleiro gritava: “Seu Juca, peguei cinco”. Mas, na verdade, pegava dez e deixava só cinco centavos. Nunca tive coragem, imaginava seu Juca furioso, mas em um sábado à tarde de Noroeste versus Marília, me convenceram a participar. Vai lá, larga a mão! Deixei oito centavos e disse: “Seu Juca, peguei oito”. Salabim! Peguei três.

Ilustração de Ana Zequin