o supermã
Sinuhe LP
Pronto voei pelas ruas grudando nas portas. Bastavam dezoito anos sem saber quem era meu pai. Queria indagar a todos, livrar-me da chaga que me consumia a contar quando nasci: o vírus do não trancava janelas e histórias… a minha história. O não dentro das casas. Você sabe quem é meu pai? Não. Todo o mundo se despedia de mim. Na cheia do rio, descobri meu pai lenda, meu pai fantasma. Você lembra muito seu pai, disseram. Desta bênção, soube do supermã: salvador de uma panapaná que durava meses, colorindo telhados, camas e portas. Meu pai falou com as borboletas. E o amaram tanto, que o enrolaram num grande casulo para pendurar na mangueira do rio, guardando-o para as próximas nuvens. Bastou uma noite para o casulo abrir, meu pai voar e o povo — arrependido — tentar esquecê-lo.
Ilustração de Ana Zequin