casa de badalação e tédio

Sinuhe LP

Não são dias, não são noites, apenas são. O que são? Ainda não sei, ainda não pensei. Eu apenas olho para a casa e me sinto em casa. A casa engraçada onde o tempo não passa. O tempo transforma. E o que aparece, parece ser o que sempre foi, mesmo sem nunca ter sido. O que faz sentido faz-se sentindo. Olho para mim e vejo o tempo vivo. Ao vivo. Mas não me ocupo de onde venho ou para onde vou. Estou chegando ao mesmo lugar. Porque aqui tudo tem pertencimento. Até mesmo o que não existe: eu sinto. E sinto tamanha intimidade, o desconhecido me soa familiar, também um pouco de mim. Um pouco. Estou esperando os meus estranhos na casa de fomos e somos. A casa de somas. Dentro e fora, eu sinto a casa. O meu limiar. Às vezes até acho que eu sou a própria casa. Eu acho que sou.

Ilustração de Ana Zequin